Tu ouves este murmurio plácido?
São as vozes de uma cidade morta
São almas atravessando portas
Que destoam,...
Provocando um grande alarido
Medonhos gritos de pus sufocante
Entornando sangue das ventas
No clarão de luz da tormenta
Que destoam,...
Dos gemidos esquálidos suplicantes
E há tantas pedras vermelho rubi
Que faíscam na noite pelo atrito
Há dos céus os que se julgam feridos
E choram pelo amor perdido
Como um halo de luz que se exauri
Como a agua que extrapola dos rios
Sobe aos céus toda esta tormenta
Que em mim provoca calafrios
Que Deus me proteja e me guarde
Nestes dias de procrastinação
As lagrimas são a minha catarse
Que emanam de meu pobre coração
Alexandre Montalvan
A esmo a noite se avizinha
de tão lívida ferve e convulsiona
procuro o ar ao vir à tona
e olho a lua e m'alma adivinha
Que há nos céus irrupções de desejo
como se flores fossem gente
meus sentimentos não podem ser indiferentes
se mesmo não querendo ver... Eu vejo
Apaguei uma luz, matei um amor, um sonho
uma dor me faz chorar
no depois, nada há
mas sempre haverá uma razão para amar
Só eu e você
neste estranho labirinto
em um espaço cada vez mais miúdo
mesmo se quisesse eu não minto,
em meu grito mudo,
cada dia que passa
é mais difícil dizer o que sinto
No ventre da fria madrugada
pouso
meus lábios nos teus,
beijos impregnados de erros,
como um sonho, em que o sentido se perdeu.
Sonhos...ao anoitecer
mistérios do meu sono. Eu que sonho acordado...
são míseros
pecados sonhando com você...
Alexandre Montalvan
Inenarrável os teus olhos vociferam
pelas dores impostas por um carrasco
E como tantos outros caminhos da terra
Teu calvário está em pequeno frasco
Incendeia o teu rubor em nada condenso
fé na névoa de teu inquebrável tesouro
suor rolar na testa encharcando o lenço
cospe dentes entre cacos de vidro e ouro
É o mal que viraliza e te entra pelo nariz
o branco mortal como uma serpente infectada
a vida numa roleta russa é viver por um triz
a vida de uma meretriz talvez não valha nada
Se sim, o tempo para chorar já se extinguiu
e as suas lagrimas secaram em suas fossas
e tua vida descontrolada um sofrido ardil
morrer renascer nem que seja puxando carroça
Alexandre Montalvan
Faça de mim apenas um poço
em qualquer deserto sem água
neste infortúnio causal que ouço
em que a ternura pouca mirrava
Faça-me tela de linho branco
onde amor se desmancha nas cores
e que a dor é um mal natural
linfa impura de tantos horrores
que escorre por entre pedras dos açores
Faça de mim amor para quem não entendeu
que é para todos o respeito, as regras, as leis
faça-me o fogo no qual me queimei
sonorizando a dor que arrefeceu
na noite sem a lua cor de breu
Faça de mim o ator que não sou ou fui
e nesta tristeza que me coça e arde
sem que eu possa dizer um Ui
nas entrevidas de sombras que polui
ao me ver morrer na minha finita tarde
Dê-me então teu abraço; Ò noite escura!
Já não há lei, nem dos homens, nem de Deus.
Aos meus olhos mostre o meu fim!
Somente o negrume é que não
poderá negar para mim...
ou para os meus.
Alexandre Montalvan
No oco de um sujo espectro
o enrosco que surge é o rosto
e os contornos suaves do resto
que restam no chão é um pouco
Que liga, liga esta sombra triste
em elos de um extinto país distante
no jardim que não tinha um fim nem existe
na imagem de tristeza de cada instante
No espelho um reflexo disforme
um engodo sem cú ou sem nome
o fruto é fogo falso que o consome
enquanto os monstros no pasto dormem
Do falso ao que não é verdadeiro
porem absurdamente o rei está nu
uma criança grita ao mundo inteiro
enquanto vacas no pasto gritam muuuuu
Pois comeram sanduiche desfermentado
no lugar de um matinho da harmonia
beberam água de um tacho mal lavado
água benta ao final da liturgia
Porem acho que tudo não tem sabor de nada
são só ondas de vento sopradas na rua
enquanto o resto e o rosto dão risadas
da circuncisão da enorme glande da escultura
Alexandre Montalvan
Ecoa a tua voz em minha cabeça
Faz rolar na face uma lagrima oleosa
É este poder que não deixa que eu esqueça
De teus lábios vermelhos cor de rosa
Não posso evitar que o mal me impeça
De fugir desta sina, sereia venenosa
Vou me iludir com tuas falsas promessas
Quero me afastar desta dor caprichosa
Mas dos céus vão cair flocos de desejos
Que incendeiam meu sangue quando a vejo
Fazendo do meu corpo uma fogueira
Mulher de sonhos que me enche de tesão
Faz deste meu amor loucura e perdição
E da minha alma uma louca prisioneira.
Alexandre Montalvan
Neste mundo no qual me afundo
sou apenas um simples naufrago
meus segredos escondo bem fundo
e o amor com as mãos eu esmago
Fodo-me aqui onde eu sou um plágio
com palavras de um sentir profundo
são poemas que escrevo e propago
mas que não sou ou serei um segundo
Farta-me de todo o horror do mundo
e fulmine-me com o calor de um raio
ou faça-me a lama na qual me afundo
aí eu mostro o quanto eu sou falho
Falho nas poesias das quais me valho
pois que valham no buraco no qual eu caio
mas quando olho deste buraco e vejo o céu
o mesmo céu que me enterra cada vez mais fundo
Alexandre Montalvan
O amor é sempre um sonho do humano
porem que nem sempre tem o tato
nós o confundimos a um contrato
para a destruição nós o levamos
O amor não poderá ser medido
todo minuto será infinito
não se pode sufocar o grito
Amo até sem ser correspondido
É isto! O amor é esta maluquice
é como a porta do hospício abrisse
a vista, ofuscada por um véu
É melhor é retirar que eu disse
pois se um raio agora me atingisse
seria expulso para sempre do céu
Alexandre Montalvan
Eu posso e tenho um corpo sem olhos
Pois é em um nada que eu posso te ver
Ajoelho e aos deuses eu agradeço
Pois cego eu sou como cego é você
Mas eu consigo ver a tua felicidade
Mesmo não tendo boca para sorrir
É a imanência absoluta e pode fazer
Com que eu me interiorize em você
Triplicado em múltiplos sou este ser
Que se revela na ausência de nascer
Com a língua largada e fria finjo pertencer
À uma cloaca impura na qual voltarei ao morrer
Se o surreal desta vertigem é ser virgem
De corpo, é apalavrado, mas de alma não existe
A não ser em muros que negros se insurgem
Pichado em tintas brancas com o dedo em riste
Eu tenho um nada comigo mas apenas sou desnudo
Uma aflição desmensurada que escrevo sem jeito
É uma faca na garganta que me rasga até o peito
Perdoe este jeito de falar... é meu medo
de morrer mudo.
Alexandre Montalvan
As palavras que nadam em teu olhar,
são infinitas estrelas em um céu de fogo,
elas desenham as cores de um rouxinol
num canto de amor em um romântico jogo
Os instantes contemplam sua inocência eterna
enganam o tempo por não querer que ele passe
a essência do amor é sua irrealidade terna
a sensualidade mundana e o verdejar de sua face
Da solidão ao vento que a leva em suas asas
sem que faças desta dissolução um pensamento
como o mundo fazendo do coração a sua casa
quando o mundo é mais escuro que o momento
Abrace o alvorecer! Pois tua alma influencia o dia
intua o olhar no infinito, o verbo é só poesia
poesia ao beijo com o hálito perfumado de maça
e no beijo só amor existiria no nascer de cada manhã
Alexandre Montalvan
Perpétuo é este amor de um instante
do inferno de Dante até o paraíso
é preciso viver a vida com um sorriso
é centelha de luz efêmera mas brilhante
Como este amor foi feito de improviso
seu toque de mão nunca foi constante
ah! amor terrível que me fere o siso
a cada dia que passa é pior que antes
Sei que não há de restar nem mesmo cinzas
pois todas serão levadas pela brisa
não pense quem me lê que sou ranzinza
é tão somente uma influição concisa
Há tanta dor de amor que eu poetizo
versos no lugar de lágrimas inocentes
é viver no inferno e não no paraíso
quando o amor se torna esta vã serpente
alexandre montalvan
Nunca eu fiz tudo que pude
Para ser o melhor em nada
Tenho tão poucas virtudes
E as falhas são demasiadas
Tu não peças que eu mude
Elas completam a m'jornada
E nesta louca vida amiúde
Sempre temo qualquer cilada
Afinal trago comigo a verdade
Sem ocultar nada eu digo
Minha vida é sem fronteira
Sou como um cão jogado na rua
Minha cama é a calçada sob a lua
Vivo feliz por viver sem coleira
Alexandre Montalvan
O poema não tem sentido sem teu tino
mas eu me atino a errar mais uma vez
salta o verbo percutindo meu destino
e o faz no erro para que tu possas ver
Claro que isto pode ser muito ferino
que fazer se a realidade é um talvez
se o erro faz parte do sangue latino
é este o motivo para expor sua nudez
Não de principios a sintaxe aprofunda,
abunda o uso eriçado em seus trilhos
Mas não é bom nadar em águas profundas
Pois se a sua isufruição impacienta
A linguagem engasta versos com brilho
E a poesia latina ou é oito ou é oitenta
Alexandre Montalvan
Oh! marulhar deste mar de tantos sonhos
ninguém pode sentir aquilo que sentes
ou a dor nos longos caminhos do abandono
e deste grande amor que se faz presente
Oh! este amor tão transitivo e tão raro
só foi ave de um verão curto e passageiro
ele que não se deu a você por inteiro,
no outono partiu, e a deixou no desespero
Oh! tão frio aterrador é este sombrio inverno
este amor moderno que pra ti é eterno
a tua pobre alma se arrasta na loucura
e na insensatez que é amar na desventura
É chegada à hora de dividir o indivisível
de reinventar este triste coração partido
por este amor perdido que é cinza, mas já foi chama
que desfigurou a tua pobre alma nesta emoção,
Deste abandono que sobre ti a dor derrama
são restos de um amor que foi apenas ilusão,
risco que só se corre quando se ama.
E quando se entrega eternamente o coração...
Alexandre
Leve-me contigo, eu te digo
Ou venha comigo num neste ritmo alucinadamente lento,
viveremos o amor.
Ao flutuar nas águas vermelhas das paixões
Dedilhar no teu corpo macio
Sentir o bater dos nossos corações
As labaredas sensuais da carne
Trazem para o frio da noite o calor, o tesão
Neste emaranhar de corpos os suspiros surgirão
Uma sensação de enorme prazer
Um gozo infindo em uma enorme explosão
Perdidos na linha de um horizonte lindo
Não importa para onde estamos indo
Almas livres nesta imensidão
E para o amor convergindo
Na urgência esplendida da nossa união
A magia de nosso amor em um suave verso
Que nasce no âmago do coração
É na invenção lúdica do universo
Que transmuta todo o ato concreto em pura emoção
Mais um beijo molhado por inteiro
Do deleite ao carinho a diferança é pouca
E nossos corpos ensopados de prazer
Suspiros saem abafados das nossas bocas
É o amor que nos ensina o êxtase que é viver
Alexandre Montalvan